Criança em movimento: a importância do movimento livre segundo a abordagem Pikler

“Eu sou pequeno, mas isso não me impede de explorar o mundo inteiro. Não preciso de ajuda para me mover, só de tempo, liberdade e espaço para crescer. Quem sou eu?”. A resposta para essa charadinha é simples: um bebê com movimento livre, de acordo com Emmi Pikler. 

Se você acha que todos os bebês têm isso, lamentamos informar que não. O motivo para essa liberdade não acontecer é simples: os adultos, muitas vezes, retiram a autonomia da criança. 

Seja por questões de segurança, seja por acreditar que eles não podem fazer ou descobrir algo por si mesmos, os adultos, muitas vezes, impedem que os bebês explorem e descubram o mundo sozinhos. 

Sabendo disso, a doutora Emmi Pikler preconizou o movimento livre como uma das premissas da sua abordagem. 

Quer entender a importância do movimento livre, saber como criar um ambiente para o brincar livre e desenvolver essas estratégias em sala de aula? Então, continue a leitura. 

O que é o movimento livre segundo Emmi Pikler? 

Conforme a abordagem de Emmi Pikler, facilita-se o desenvolvimento motor por iniciativa do próprio bebê. 

Para chegar a essa conclusão, Emmi Pikler orientou os pais, durante as suas consultas, a deixarem o bebê iniciar seus movimentos e determinar o ritmo de seu desenvolvimento motor. Essa orientação, por sua vez, era contrária ao que normalmente se pregava, ou seja, que os pais deveriam ajudar os pequenos. 

Desse modo, os pais foram aconselhados a não virar o bebê de costas, até que ele pudesse fazer isso sozinho. Da mesma maneira, também não se recomendou colocar o bebê sentado ou segurá-lo pelas mãos enquanto ele está em pé. 

O objetivo dessas “não atitudes” era aguardar o momento em que eles pudessem se movimentar sozinhos, pois isso indicava que eles estavam prontos para isso. Dessa forma, nenhum movimento deveria ser estimulado antes da hora. 

O bebê deveria se movimentar livremente e de acordo com o seu desenvolvimento.

O marco do desenvolvimento 

Como apresentou-se no tópico anterior, o adulto não deve intervir nos movimentos do bebê. Isso porque o marco do desenvolvimento motor é alcançado pela iniciativa e pelo esforço do próprio pequeno. 

Por isso, Emmi Pikler desconsiderou o uso de estímulos externos que deixassem o bebê em uma posição passiva. Nesse sentido, não se recomenda acessórios como andadores na abordagem pikleriana, porque impedem que as crianças desenvolvam habilidades. 

Assim, segundo Emmi Pikler, o bebê, incentivado por sua própria iniciativa, pode desenvolver qualquer movimento completamente sozinho. Isso é essencial para a autonomia dele. 

O papel da autonomia no desenvolvimento infantil

Para Emmi Pikler, o bebê é um indivíduo capaz desde o seu nascimento. Nesse sentido, os bebês sabem entreter e incentivar a si mesmos, desde que possam explorar as habilidades do próprio corpo e interagir com o ambiente e com outros bebês. 

Desse modo, com um ambiente preparado, seguro e adaptado, a criança pode se desenvolver completamente. Assim, segundo a pediatra, “um bebê em liberdade explora posturas e experimenta seu corpo, repete e retoma o movimento quantas vezes necessitar e quiser.”

Assim, quando um bebê tem liberdade, ele consegue explorar diferentes posturas. Mais ainda, ele pode desenvolver e fortalecer suas habilidades motoras conforme o seu próprio ritmo. 

Ainda mais, segundo Gardia Vargas (2014), “o corpo, enquanto movimenta-se nas diversas ações, em atitude corporal, mostra-se em visão, fala, em audição, em gestos diversos, ou seja, o corpo próprio é criador de novos significados”. Desse modo, a criança consegue também se expressar e se movimentar, usando suas próprias habilidades. 

Nesse sentido, há muitos benefícios para o pequeno. 

Benefícios do movimento livre para os bebês e crianças pequenas 

Quando o assunto é benefícios, o movimento livre traz inúmeros. Desse modo, quando se cria o bebê em liberdade, ele consegue desenvolver:

Motricidade: todos os movimentos, como rolar, rastejar, engatinhar e andar, podem ser desenvolvidos de modo espontâneo pela criança. Tojal (1994) se refere à motricidade como um processo adaptativo, evolutivo e criativo de um ser prático. A motricidade indica que o bebê tem uma intenção, que ele já pensou e planejou algo. Dessa forma, a ação com intencionalidade mostra que o bebê já tem consciência do que faz, ele só precisa poder fazer. 

Desenvolvimento da atenção e da concentração: como o bebê fará tudo por si mesmo, ele prestará mais atenção em suas ações. Isso ocorre porque o cérebro aprende com o erro e, quando o bebê tem a possibilidade de errar e de aprender, sua concentração é estimulada. 

Consciência corporal: o bebê descobrirá sozinho como o próprio corpo funciona.

Desenvolvimento integral: como todos esses aspectos envolvem questões físicas, emocionais e cognitivas, o movimento livre permite que o bebê tenha o desenvolvimento integral. 

Ainda mais, alcança-se esses benefícios também por meio das brincadeiras. 

O brincar livre segundo Emmi Pikler 

Como um dos efeitos do movimento livre, o brincar livre surge. Como a vida de uma criança gira em torno do brincar, ter essa oportunidade é essencial para o seu desenvolvimento completo. 

Entretanto, ressalta-se que o brincar livre, para Emmi Pikler, não é deixar a criança com um brinquedo sem uma orientação ou em um espaço sem interação. Para que ele seja efetivo, deve-se organizar o brincar com propósitos e intencionalidade.

Desse modo, não é suficiente largar a criança no ambiente com uma bola, por exemplo. Cada brinquedo deve ter um propósito, cada lugar precisa ter um objetivo, e a criança ou o bebê tem que ter autonomia para mudar a dinâmica da brincadeira.

O ambiente pikleriano, desse modo, é um espaço que deve possibilitar esse desenvolvimento. 

Como montar um ambiente pikleriano?

Seja na escola, seja em casa, o ambiente é um dos fatores principais para a garantir o movimento livre. Nesse sentido, algumas observações são relevantes:

O ambiente deve ser amplo: o lugar deve possibilitar que a criança tenha espaço suficiente para brincar. 

Os móveis devem ser bem posicionados, acessíveis e necessários: todos os móveis do quarto, por exemplo, devem ser acessíveis para as crianças. Camas mais baixas, cômodas com gavetas acessíveis e cadeiras pequenas fazem parte das mobílias que podem passar por adaptação.

O chão deve ser bem preparado: ele deve ser de um material seguro, sem obstáculos e permitir a movimentação livre. 

Os brinquedos devem se adaptar à faixa etária: dos 3 aos 6 meses, a criança deve receber objetos leves que possibilitem o desenvolvimentos dos sentidos. A partir dos 6 meses, os brinquedos devem se deslocar, para que as crianças se apoiem e o empurrem. Já a partir de 1 ano, os brinquedos devem ajudar na aquisição motora, como as mesinhas de atividades

Sensibilize seu olhar com a abordagem pikleriana

Você percebeu que, neste artigo, evidenciamos a importância do movimento livre, o valor que existe em um espaço físico acessível e o quanto o brincar livre traz benefícios. Entretanto, é essencial que o professor cuide de sua formação continuada. 

A formação, assim, deve permitir que o lado profissional do professor acolha os bebês e as crianças bem pequenas de modo completo e respeitoso. Ou seja, é preciso adquirir conhecimentos para que o adulto saiba como se posicionar em relação à liberdade de movimento dos pequenos, entendendo quando interferir e quando se afastar. 

Isso só é possível, portanto, com um olhar humanizado e sensível. É isso que a pós-graduação em Educação Infantil numa Perspectiva Pikleriana oferece para você: um olhar sensível para você não garantir apenas a liberdade de movimento, mas o desenvolvimento integral da criança. 

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