Estudos apontam várias causas para o aumento dos problemas mentais e emocionais entre jovens e crianças no decorrer dos anos
Em novembro de 2023, a BBC News publicou uma entrevista feita com o psicólogo americano Peter Gray. Nessa entrevista ele explica sobre eventos crescentes, com relação à saúde mental, que aconteceram com os jovens nos últimos anos.
O aumento progressivo das taxas de ansiedade, depressão e suicídio entre os jovens nas últimas décadas são alarmantes e não há um consenso entre os especialistas. No entanto, o psicólogo afirma que essas patologias psicológicas estão diretamente ligadas à redução gradual do nível de independência dos jovens.
O professor e pesquisador de psicologia e neurociência no Boston College declara que houve uma diminuição significativa com relação às oportunidades para as crianças e adolescentes brincarem ou realizarem alguma atividade independente da supervisão e controle de um adulto.
Segundo Gray, tais atividades permitem que a criança ou o adolescente tenham mais bem-estar mental, como fonte de satisfação pessoal imediata. A longo prazo, ele afirma que os jovens desenvolvem resiliência e “as características mentais que fornecem uma base para lidar de forma eficaz com o estresse da vida”.
O professor é categórico ao afirmar que essa não é a única causa dos problemas emocionais que a população jovem vem enfrentando atualmente. Contudo, é uma causa muito importante.
No Brasil, houve um crescimento expressivo nos últimos anos, repetindo o que aconteceu na América do Norte. “A taxa de suicídio entre jovens cresceu 6% ao ano no Brasil entre os anos de 2011 e 2022. Já as taxas de notificações por autolesões na faixa etária de 10 a 24 aumentaram 29% a cada ano nesse mesmo período”, segundo estudos publicados na The Lancet Regional Health.
Os estudiosos responsabilizam a tecnologia e o comportamento humano pela falta de autocontrole, principalmente os jovens e adolescentes. Já se sabe que as redes sociais possuem mecanismos que tendem a causar o vício entre os usuários.
Nos Estados Unidos, alguns estados discutem a possibilidade de proibir os celulares na escola. Com esse foco, o psicólogo americano Jonathan Haidt propõe que a superproteção dos pais na vida real, aliada à total liberdade no mundo online, estaria propiciando a formação de uma geração ansiosa, com comportamento muito diferente dos padrões estabelecidos por anos de convívio em sociedade.
Para comprovar a tese de que o celular é a principal causa da crise global de saúde mental entre crianças e adolescentes, Haidt apresentou pesquisas realizadas em diversos países e concluiu que a causa do aumento dos casos de doenças psicológicas está ligada ao uso de celulares.
Outra causa preocupante é uma queda no chamado “senso de pertencimento escolar”. A informação é do Pisa, Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, do Governo Federal, coordenado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Segundo o programa internacional, esse sentimento caiu para 69,6% em 2022, enquanto anotava 91,4% no início do século. A sensação de solidão também cresceu, em 2000, a taxa era de 8,5%, saltando para 26,6% em 2022.
O IBGE mostra um crescimento da taxa de depressão, por meio da Pesquisa Nacional de Saúde, em todas as faixas etárias.
Há quem diga que a tecnologia não é um fator determinante para o aumento da piora da saúde mental. A autora Candice L. Odgers, professora de psicologia da UC Irvine, na Califórnia, defende que existam outros fatores, como discriminação estrutural, dificuldades econônimcas e a epidemia de opioides como causas mais relevantes.
Incentivar o convívio e a autonomia das crianças desde a primeira infância vai ajudá-las a se tornarem jovens e adultos mais confiantes e independentes, prontos para enfrentar as adversidades da vida com mais clareza e autodomínio.
No entanto, sejam quais forem as causas de origem, é imprescindível cuidar da saúde mental e emocional. Além disso, estar atento ao seu comportamento e, ao menor indício de mudança, buscar ajuda profissional para evitar maiores problemas.