Nos últimos anos, o debate sobre cuidado e intencionalidade pedagógica ganhou relevância em documentos, pesquisas e organizações de referência no Brasil, com destaque para discussões que defendem planejamento consciente das experiências e centralidade do desenvolvimento integral da criança pequena.
Do ponto de vista técnico, cuidado e intencionalidade pedagógica significam articular interações, espaços, tempos e materiais com objetivos claros de aprendizagem e desenvolvimento, considerando necessidades, ritmos e culturas das crianças de 0 a 3 anos.
Neste artigo, apresentamos fundamentos, exemplos práticos e critérios de qualidade para que educadores, coordenadores e gestores integrem cuidado e intencionalidade pedagógica no cotidiano da creche, com foco em planejamento, observação e avaliação formativa.
No cotidiano da Educação Infantil, cuidado e intencionalidade pedagógica orientam cada decisão: acolher, garantir bem-estar, planejar experiências e personalizar intervenções a partir da escuta ativa e do currículo.
Essa intencionalidade organiza objetivos, critérios de acompanhamento e conexões entre experiências, assegurando foco no desenvolvimento integral — físico, cognitivo, social e emocional — e na participação ativa das crianças.
Como prática de qualidade, supõe explicitar finalidades (o quê/por quê), relações com campos de experiências, e indicadores observáveis de aprendizagem alinhados ao projeto pedagógico.
“Intencionalidade pedagógica implica uma abordagem consciente e planejada: cada atividade, interação e decisão do educador é pensada para promover o aprendizado, considerando necessidades e interesses das crianças.”
— Observatório Movimento Pela Base.
O planejamento articula rotinas de cuidado (alimentação, higiene, sono) e experiências lúdicas, preservando cuidado e intencionalidade pedagógica na organização do tempo e do espaço. Isso favorece previsibilidade, autonomia e segurança emocional.
Para crianças de 0–3, a intencionalidade emerge de microdecisões: convite ao brincar, mediação de conflitos, arranjo de materiais acessíveis, tempo de exploração e momentos de silêncio — sempre com objetivos e registros.
Integrar cuidado e intencionalidade pedagógica significa planejar também os momentos de transição e as interações espontâneas, para que o cotidiano se torne contexto de aprendizagem.
Leia mais: Qual a importância da brincadeira na Educação Infantil?
Indicadores práticos incluem: objetivos visíveis para a equipe, rotinas flexíveis, ambientes acessíveis, e materiais que convoquem exploração sensorial, linguagem e movimento.
“A intenção bem definida aumenta engajamento, permite alinhar estratégias a objetivos e personalizar a aprendizagem.”
— Observatório Movimento Pela Base.
A avaliação em cuidado e intencionalidade pedagógica é formativa: observa, interpreta e devolve pistas para replanejar. Registros breves e consistentes conectam evidências do brincar, do gesto, do olhar e da linguagem a objetivos definidos.
Documentar é tornar visível o processo: o que a criança tentou, como persistiu, quais apoios funcionaram. O foco é acompanhar trajetórias individuais e coletivas, respeitando ritmos e contextos.
Coordenadores podem instituir critérios de documentação (o que, quando, como) e rotinas de estudo de caso em equipe, qualificando decisões pedagógicas.
Leia também: Desenvolvimento Infantil de 0 a 3 anos.
“Analisar como o professor compreende seu papel de educar e cuidar, caracterizar práticas e refletir antes, durante e depois da ação são eixos para qualificar a Educação Infantil.”
— UFPB (Monografia de Silva & Farias, 2014).
Critérios práticos para articular cuidado e intencionalidade pedagógica |
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| Objetivos Enuncie resultados esperados (0–3) em linguagem observável. |
Indícios Liste comportamentos/produções que evidenciem avanços. |
Replanejamento Defina próximos passos e apoios na rotina. |
| Bem-estar e vínculo | Acolhe, busca o adulto, participa com curiosidade | Amplie tempos de exploração e pequenas parcerias |
| Linguagem e gesto | Aponta, vocaliza, imita, nomeia pessoas/objetos | Inclua cantigas, livros acessíveis e narrativas do cotidiano |
“Cuidar e educar constituem eixo da identidade da Educação Infantil; o professor planeja relações e experiências com intencionalidade definida, planejada e sistematizada.”
— Pasqualini em Martins & Duarte (Org.), SciELO Books, 2010.
Ambientes e interações expressam cuidado e intencionalidade pedagógica: materiais acessíveis, tempos estáveis e relações responsivas garantem segurança, autonomia e exploração significativa.
Família, escola e comunidade compõem rede de cuidado; práticas intencionais fortalecem o desenvolvimento integral, com foco em vínculos, segurança e participação ativa das crianças pequenas.
Vínculo, rotinas previsíveis e oportunidades de brincadeira favorecem autorregulação, linguagem e participação social — dimensões que se constroem em cuidado e intencionalidade pedagógica no cotidiano.
Ao garantir necessidades básicas, afeto e ambientes seguros, fortalecemos bases para o desenvolvimento integral, desde os primeiros anos.
“É essencial atender necessidades, oferecer afeto e proporcionar ambiente seguro nos primeiros anos; toda a rede deve compreender essa responsabilidade para promover o desenvolvimento integral.”
— Fundação FEAC.
Na psicologia histórico-cultural, cuidado e intencionalidade pedagógica articulam ensino, mediação e cultura. Ensinar é fundante também na primeira infância, pois qualifica experiências e amplia modos de agir e pensar.
Esse enfoque supera dicotomias entre “meramente cuidar” e “ensinar”: o professor planeja relações e práticas que produzem desenvolvimento, integrando dimensões emocionais, expressivas e cognitivas.
Nas políticas e na pesquisa recente, cresce o entendimento de que a creche exige profissionais que dominem teorias, observação e planejamento, assumindo autoria pedagógica com cuidado e intencionalidade pedagógica.
“A intencionalidade pedagógica na creche é alvo de pesquisas, leis e referenciais, sobretudo na dualidade educar-cuidar; o professor planeja experiências e relações com base em finalidades pedagógicas.”
— Revista Ciência Atual (São José), 2024.
Integrar cuidado e intencionalidade pedagógica significa tornar cada gesto educativo parte de um projeto claro de desenvolvimento: objetivos explícitos, observação sensível, documentação formativa e replanejamento contínuo.
Para que a creche realize sua função social e educativa, equipes precisam de referências sólidas, instrumentos simples e cultura de estudo — caminhos que qualificam decisões e ampliam direitos de aprendizagem de bebês e crianças pequenas.
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Explicite objetivos por experiência/rotina, defina indícios observáveis e planeje intervenções (materiais, tempos, mediações) que aproximem as crianças desses objetivos, registrando evidências para replanejar.
Indicadores como atenção compartilhada, curiosidade, iniciativa no brincar, gestos comunicativos, vocalizações, imitação, exploração motora, participação social e autorregulação em rotinas de cuidado.
Registros curtos com foco no objetivo, evidências e próximos passos. Padronize campos essenciais e use momentos de estudo de caso em equipe para interpretar dados e ajustar o planejamento.
Famílias integram a rede de cuidado: compartilhar rotinas, observar interesses, oferecer ambientes seguros e afetivos e participar de devolutivas fortalece a coerência entre casa e creche.
Porque entende desenvolvimento como processo cultural e social mediado pelo ensino e pelas relações. O professor, com cuidado e intencionalidade pedagógica, amplia repertórios e modos de agir.
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