Lesões no CrossFit® Competitivo: Um Olhar Epidemiológico e Fatores de Risco

Introdução

O CrossFit® atrai milhões de praticantes pela sua dinâmica, desafio e resultados. No entanto, a combinação de alta intensidade, movimentos complexos e volume de treino, especialmente no cenário competitivo, levanta questões importantes sobre o risco de lesões musculoesqueléticas. Entender a epidemiologia dessas lesões – quem se lesiona mais, onde e por quê – é fundamental para profissionais da Medicina Esportiva que buscam prevenir, diagnosticar e tratar esses atletas.

Um estudo transversal realizado com atletas de competição de CrossFit no Brasil (Purim et al., 2024), publicado na Revista Brasileira de Ortopedia, nos fornece um panorama valioso sobre a frequência e as características dessas lesões. Vamos analisar os principais achados e suas implicações práticas.

A Frequência das Lesões no CrossFit Competitivo

O estudo, realizado com atletas adultos participantes de uma competição em 2017, revelou dados importantes:

  • Alta Prevalência: 44% dos atletas relataram ter sofrido alguma lesão decorrente da prática do CrossFit. Este número, embora variável na literatura, indica uma incidência considerável no contexto competitivo.
  • Incidência Maior em Homens: Dos atletas que relataram lesões, 67,3% eram homens, sugerindo uma maior suscetibilidade ou talvez uma abordagem de treino mais arriscada neste grupo dentro do ambiente competitivo analisado.

O Mapa das Lesões: Tipos e Locais Mais Comuns

Conhecer as lesões mais frequentes ajuda no diagnóstico diferencial e na prevenção:

  • Tipos Principais: As lesões mais relatadas foram inflamações (tendinopatias, bursites, etc.), entorses e contusões.
  • Locais Mais Afetados: As áreas anatômicas mais vulneráveis identificadas no estudo foram:
    • Ombro
    • Coluna (lombar principalmente)
    • Joelho

Essa tríade (ombro-coluna-joelho) é frequentemente citada na literatura sobre lesões no CrossFit e merece atenção especial na avaliação e acompanhamento desses atletas.

Fatores de Risco: O Que Aumenta a Chance de Lesão?

O estudo analisou diversas variáveis, mas uma se destacou como significativamente associada à ocorrência de lesões:

  • Duração do Treino (Minutos por Sessão): Atletas que realizavam treinos com duração mais longa (em minutos) apresentaram uma maior probabilidade de se lesionar (p = 0.002). Isso sugere que o volume acumulado de estresse em sessões prolongadas, talvez associado à fadiga e consequente piora da técnica, é um fator de risco crucial.
  • Lesão Prévia: Um terço dos atletas lesionados (34,4%) já possuía uma lesão anterior no mesmo local, reforçando a importância do histórico clínico e de uma reabilitação completa para evitar recidivas.
  • Idade: A faixa etária mais jovem (18-29 anos) concentrou a maior parte das lesões relatadas (46,8%), embora a interpretação desse dado precise considerar a maior proporção de atletas nessa faixa etária em competições.
  • Frequência e Descanso: A maioria dos lesionados treinava 5 vezes por semana e descansava em média 1,7 dias, padrões comuns na modalidade, mas que, associados a sessões longas, podem contribuir para o risco.

Implicações para a Medicina Esportiva e Profissionais da Saúde 

Esses dados epidemiológicos oferecem insights valiosos para a prática:

Anamnese Detalhada: Investigar histórico de lesões prévias é crucial, dado o risco de recidiva.

Foco nos Pontos Críticos: Dedicar atenção especial à avaliação e prevenção de lesões no complexo do ombro, coluna lombar e joelhos.

Gerenciamento da Carga de Treino: Orientar atletas e treinadores sobre os riscos associados a sessões de treino excessivamente longas.

Ênfase na Técnica: Reforçar a importância da execução correta dos movimentos, especialmente sob fadiga, que pode ser exacerbada em treinos mais longos.

Acompanhamento Profissional: Embora a maioria dos atletas no estudo tivesse acompanhamento (75,8%), garantir que este seja qualificado e aborde a prevenção e a gestão da carga de treino é essencial.

Conclusão: Prevenção e Gestão de Carga são Chave

O CrossFit competitivo, embora eficaz para o desenvolvimento físico, apresenta um risco considerável de lesões musculoesqueléticas, afetando quase metade dos atletas no estudo analisado. Ombro, coluna e joelho são as áreas mais vulneráveis, e as inflamações são o tipo de lesão predominante. O fator de risco mais significativo identificado foi a duração prolongada das sessões de treino. Para os profissionais da Medicina Esportiva, esses dados reforçam a necessidade de uma abordagem preventiva focada no gerenciamento da carga de treinamento (especialmente a duração), na otimização da técnica e na reabilitação completa de lesões prévias.

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