A estética nunca esteve tão próxima da tecnologia e, ao mesmo tempo, tão desafiada por ela. Hoje, em tempos de selfies e redes sociais, o uso constante de filtros faciais modifica não apenas as imagens, mas também a forma como as pessoas se percebem diante do espelho.
Esse fenômeno tem nome: dismorfia do Instagram (ou dismorfia digital). Ele descreve uma alteração na autoimagem, provocada pelo uso excessivo de filtros de beleza, que leva muitas pessoas a buscar procedimentos estéticos não para corrigir imperfeições reais, e sim para se parecer com uma versão filtrada de si mesma.
Filtros são recursos de edição visual aplicados em tempo real por aplicativos como Instagram, TikTok e Snapchat. Eles suavizam a pele, afinam o rosto, aumentam os olhos e mudam a simetria facial — tudo com um único toque.
Embora pareçam inofensivos, o uso frequente pode, com o tempo, alterar profundamente a percepção de normalidade e beleza. Isso ocorre principalmente entre adolescentes e jovens adultos, que estão em fases mais sensíveis de formação da identidade.
A dismorfia digital é um tipo de transtorno dismórfico corporal (TDC). Nesse quadro, a pessoa passa a enxergar defeitos inexistentes ou mínimos na própria aparência, muitas vezes impulsionada por comparações com versões editadas de si mesma.
Entre os sinais mais comuns, destacam-se:
Insatisfação constante com o rosto ao natural;
Comparação excessiva com selfies ou imagens filtradas;
Obsessão por intervenções estéticas;
Dificuldade em aceitar fotos sem edição;
Impacto emocional e social relacionado à aparência.
Consequentemente, a pessoa entra em um ciclo vicioso: quanto mais se vê filtrada, menos tolera a própria imagem real.
Nos consultórios, cada vez mais pacientes chegam com referências irreais de beleza. Muitos apresentam fotos filtradas pedindo para “ficar iguais”, o que se torna um desafio ético para os profissionais da área.
Procedimentos como:
Preenchimento labial;
Harmonização facial;
Lipo de papada;
Rinoplastia não cirúrgica;
Clareamento da pele;
Passaram a ser procurados com base em modelos digitais, e não em proporções fisiológicas reais.
Diante desse cenário, clínicas e profissionais têm o dever de:
Avaliar o estado emocional do paciente antes de indicar procedimentos;
Estabelecer limites técnicos e éticos claros;
Promover a valorização da identidade real e da beleza natural;
Educar sobre expectativas realistas.
Assim, a estética continua sendo uma ferramenta de autoestima em vez de um instrumento de distorção. Transformar, sim. Padronizar, não.
Para evitar esse problema crescente, é importante:
Reduzir o uso de filtros e consumir conteúdo mais realista;
Praticar o autoconhecimento e a aceitação;
Buscar apoio psicológico caso haja sofrimento com a própria imagem;
Escolher profissionais que valorizem a individualidade;
Entender que redes sociais mostram versões editadas, e não a realidade.
Sozinhos, não. No entanto, o uso frequente pode agravar inseguranças e ansiedade ligadas à autoimagem.
Sim. Psicoterapia, acompanhamento multidisciplinar e educação sobre imagem corporal são fundamentais.
Com empatia, escuta ativa e responsabilidade. Muitas vezes, o “não” é mais terapêutico do que uma aplicação desnecessária.
Não. O problema surge quando o uso é excessivo e a imagem filtrada se torna a única referência de beleza.
Sim. Embora mais comum entre mulheres, a pressão estética também afeta o público masculino — inclusive com distorções musculares, como a vigorexia.
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